Alunos mais pobres têm desempenho crítico em leitura no Brasil, revela estudo internacional
Quase metade dos alunos brasileiros do 4º ano com menor nível socioeconômico está com aprendizado em leitura “abaixo do básico”, enquanto apenas 1 a cada 4 atinge o nível adequado. A diferença de desempenho entre alunos ricos e pobres no Brasil é a maior entre os países participantes do estudo PIRLS. A análise foi feita pelo Iede a partir de dados coletados em 2021, e revela como a desigualdade social afeta profundamente a qualidade do aprendizado.

Um estudo realizado pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), com base nos microdados do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), trouxe um dado alarmante: quase metade (49%) dos estudantes brasileiros do 4º ano com menor nível socioeconômico tem desempenho em leitura abaixo do básico.
A análise mostra que apenas 26,1% dos alunos mais pobres atingem um aprendizado considerado adequado em leitura, enquanto entre os estudantes com renda mais alta, esse percentual sobe para 83,9%. A diferença de 58 pontos percentuais entre os dois grupos é a maior entre todos os países participantes do estudo, superando Emirados Árabes Unidos, Hungria e a região francesa da Bélgica.
O estudo PIRLS foi aplicado no Brasil pela primeira vez em 2021, com coordenação do Inep, avaliando mais de 4.900 alunos do 4º ano em 187 escolas públicas e privadas de todas as regiões do país. No total, a edição global avaliou cerca de 400 mil estudantes de 57 países.
Desigualdade escancarada
A pesquisa evidencia que o desempenho escolar está diretamente ligado à condição socioeconômica. No Brasil, apenas 5% dos alunos têm nível socioeconômico alto, enquanto 64% estão na faixa mais baixa (com renda familiar inferior a R$ 4 mil). É nesse grupo que se concentram os piores resultados.
“Não é que não exista um cenário de boa aprendizagem no Brasil. Existe, só que é para poucos”, alerta Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede.
Segundo ele, é preciso refletir por que um grupo restrito alcança bons resultados enquanto milhares de crianças continuam à margem do aprendizado básico, sem sequer desenvolver a autonomia necessária para seguir aprendendo ao longo da vida.
A leitura como base para tudo
A avaliação considera como “nível adequado” o intermediário ou superior, pois é a partir desse ponto que o aluno passa a ter base para desenvolver aprendizagens mais complexas. Entre os mais pobres, quase metade nem sequer atinge o nível básico.
“Quando a gente fala de leitura, estamos falando de uma habilidade que impacta todas as outras áreas do conhecimento”, explica Faria.
Por isso, o Iede defende que os dados devem ser analisados além da média nacional, focando especialmente nos grupos mais vulneráveis, para que políticas públicas sejam direcionadas à redução da desigualdade educacional.
Comentários (0)
Comentários do Facebook