LEILÃO DE TERRAS LEVANTA INVESTIGAÇÃO E COLOCA GOIÁS NO CENTRO DA DISPUTA TECNOLÓGICA GLOBAL

A Agência Nacional de Mineração (ANM) investiga o leilão de 116 áreas para pesquisa de minerais críticos. Entre elas, 9 estão em Goiás e foram arrematadas pela 3D Minerals, pequeno escritório sediado em Belo Horizonte (MG). O caso desperta atenção pelo potencial estratégico desses recursos, disputados mundialmente entre Estados Unidos e China.

LEILÃO DE TERRAS LEVANTA INVESTIGAÇÃO E COLOCA GOIÁS NO CENTRO DA DISPUTA TECNOLÓGICA GLOBAL

O leilão de 116 áreas para pesquisa de terras raras, minerais considerados estratégicos para tecnologia e defesa, está sendo investigado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Das áreas leiloadas, nove ficam em Goiás, estado que desponta como polo emergente na produção desses insumos.

As áreas foram arrematadas pela 3D Minerals, empresa de pequeno porte localizada em Belo Horizonte (MG). A reportagem tentou contato com a companhia, mas não obteve resposta.

O presidente do Sindicato da Indústria da Mineração de Goiás e DF (Minde), Luiz Antônio Vessani, afirmou que, apesar da repercussão nacional, não enxerga indícios de irregularidades:

“A mídia tem divulgado como se fosse uma coisa muito grande, mas não vejo dessa forma. A empresa seguiu as regras para participar do leilão. Claro que se pode investigar, mas até agora nada chamou atenção”.

Vessani destacou ainda que a disputa global pelos minerais críticos é motivada por seu uso em tecnologia de ponta e aplicações militares, o que pode, futuramente, gerar uma discussão sobre defesa de ativos estratégicos no Brasil.

Minerais críticos: Goiás como protagonista

Goiás se posiciona como referência na exploração desses recursos. Em Minaçu, a mina Serra Verde é a primeira fora da Ásia a produzir terras raras em escala comercial. Já a Aclara Resources desenvolve uma planta piloto com tecnologia própria, vista como promissora.

Para Vessani, o Brasil vive uma oportunidade histórica:

“Diferentemente do ciclo do ouro, quando fomos espectadores da nossa própria riqueza, as terras raras nos oferecem, agora, a chance de sermos protagonistas”.

Atualmente, a China domina o setor, controlando 70% da mineração e 90% do refino mundial. Esse domínio permitiu ao país liderar mercados estratégicos como veículos elétricos e superímãs, peças essenciais para eficiência energética e aplicações militares.

Entraves internos

Apesar do potencial, a exploração enfrenta desafios. A ANM sofre com cortes orçamentários — cerca de R$ 28,7 milhões bloqueados em 2025 — e déficit de pessoal, operando com apenas 30% do quadro previsto em lei. Isso compromete a fiscalização de cerca de 40 mil processos minerários em andamento.

O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou auditoria sobre os impactos dos cortes nas agências reguladoras. O ministro Vital do Rêgo alertou:

“As agências não estão conseguindo exercer suas funções porque infelizmente estão sem estrutura”.

Como funciona o processo de licenciamento

O processo de exploração começa com a concessão do direito de pesquisa pelo governo federal, antes mesmo de se confirmar o potencial da área. Por razões de confidencialidade, as empresas não precisam divulgar antecipadamente onde as pesquisas serão feitas.

Se forem encontradas jazidas promissoras, a empresa pode solicitar licenciamento prévio junto aos órgãos ambientais e de mineração. Atualmente, 33 empresas estão registradas no setor, mas apenas cinco demonstram intenção real de investimento.

Muitos desses empreendimentos têm capital estrangeiro, principalmente de EUA e China, reforçando a geopolítica em torno dos minerais críticos.